Dirigentes da CUT Brasília das últimas três décadas celebraram na noite da última quinta-feira (22) os 30 anos da Central, em sessão solene proposta pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF), no Sindicato dos Bancários de Brasília.
Na cerimônia, foram apresentados os desafios enfrentados pela Central nas décadas de 80 e 90, o cenário atual imposto e a discussão de qual o papel da maior central sindical do Brasil e da América Latina e a quarta maior do mundo.
“É momento de assumir responsabilidades de conjuntura, assim como assumimos na década de 1980. O papel do sindicato, do partido político e do governo são diferentes. Estamos perdendo a consciência e a unidade de classe. Estamos agindo corporativamente. Temos que disputar o poder, e o poder não é só o governo, são os tribunais, os bancos, todos os espaços”, alertou o secretário Nacional de Organização da CUT, Jacy Afonso, que presidiu a CUT Brasília de 1991 a 1994.
A preocupação com os desafios atuais da Central também foi citada pelo quarto presidente da Central (1994 – 2000), José Zunga. “Precisamos recuperar o processo de compreensão, de indignação, e isso deve ser permanente. Devemos refletir se nos acomodamos no processo. Não podemos perder a capacidade de sermos jovens no pronunciamento revolucionário”, discursou.
O cenário hostil da época de criação da CUT e os ataques permanentes aos direitos trabalhistas pelo empresariado e pelo neoliberalismo estiveram no centro de atenção dos discursos. “A CUT surge rompendo com a lógica do Getulismo, rompendo com o sindicalismo ‘de costas’ para a classe trabalhadora. E essa luta continua hoje, quando a Central tem de lutar, por exemplo, contra um dos maiores golpes que querem ser aplicados contra os trabalhadores: o PL 4330 (que flexibiliza e precariza as relações de trabalho). Essa Central tem lado. Temos o sentimento de classe, a postura de classe e a ideologia de classe, independente de governo”, afirmou a deputada federal do PT-DF, Erika Kokay, que esteve na presidência da CUT Brasília de 2000 a 2002.
A terceira mulher a ser presidente da CUT Brasília (2006 – 2010), Rejane Pitanga, hoje responsável pela Secretaria de Estado da Criança do DF, acredita que “a CUT é a mais bela experiência de organização dos trabalhadores”. “Todas as lutas do Brasil e do DF têm a marca da CUT. Construída em anos de ditadura e neoliberalismo, a Central mantém a sua estrutura de base: democrática e de luta”, dialogou com os presentes à sessão solene.
Para o atual presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto, é importante “pegar os exemplos do passado e trazer para o futuro, dando possibilidade para que a juventude saiba que tenha em suas mãos o maior instrumento de luta da classe trabalhadora”. “Temos de ter firmeza em relação aos nossos princípios. No início desta gestão, trabalhamos o projeto ‘Todo Poder aos Sindicatos’, e conseguimos fazer com que houvesse uma reflexão e reafirmássemos nossa autonomia sindical e nossa luta para construir o socialismo. E vamos lutar de forma intransigente para isso. Vamos fazer essa luta dizendo não a essa reforma trabalhista disfarçada, que é o PL 4330; vamos fazer isso lutando por salários dignos e por toda a Pauta da Classe Trabalhadora, aprovada em assembleia com mais de três mil pessoas no dia 5 de julho deste ano”, avaliou Rodrigo Britto durante a sessão solene em homenagem aos 30 anos de CUT.
O primeiro presidente da CUT Brasília, Chico Vigilante, um dos fundadores da Central na capital federal, em 1984, concluiu sua fala dizendo: “fundamos a CUT por entender que era a principal ferramenta de transformação da sociedade”.
Do sonho à realidade
Em 28 de agosto de 1983, praticamente trinta anos atrás, mais de cinco mil homens e mulheres representando milhões de trabalhadores e trabalhadoras de todas as regiões do País, tornaram realidade um sonho acalentado pela classe trabalhadora ao longo de toda a história moderna e contemporânea.
Nascia ali a primeira Central Sindical do país, a Central Única dos Trabalhadores.
A CUT se ergueu já representando em seu primeiro dia de vida quase mil sindicatos, do campo e da cidade, quase 250 entidades pré-sindicais e associações de funcionários públicos, cinco federações, oito entidades nacionais e confederações.
Ironicamente, o sonho da classe trabalhadora brasileira se realizou num galpão que costumava produzir sonhos, o estúdio cinematográfico brasileiro Vera Cruz, em São Bernardo, onde foram produzidos centenas de filmes nacionais de sucesso. Foi em São Bernardo também que nasceu o novo sindicalismo, sob a liderança de Lula.
Ainda vivíamos nos estertores da ditadura militar, um triste e sangrento regime que o movimento sindical autêntico e combativo que se alastrou por todo o país ajudou, e muito, a derrubar.
O Primeiro Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (o 1º Conclat) que aprovou a fundação da CUT foi a concretização dos planos de centenas de companheiros e companheiras que tombaram nas lutas dos trabalhadores, assassinados a mando de patrões e governos dos empresários.
A CUT pode dizer com orgulho que seus filiados, militantes e dirigentes foram fundamentais para a derrubada dos governos militares e para o retorno ao Estado de Direito e à Democracia, que ainda estamos tentando consolidar. Foram fundamentais também para as incontáveis lutas e conquistas ao longo destas três décadas que fazem da CUT a maior Central Sindical do país, da América Latina e a quarta do mundo.
Essa comemoração dos 30 anos de CUT não é só pra celebrar e relembrar os homens e mulheres que construíram e constroem essa história. É também para incentivar e mostrar aos jovens a necessidade de manter o que foi conquistado até hoje. Mais do que isso, de mobilizá-los para lutar para mais e mais conquistas a eles e às futuras gerações.
Na sessão solene desta quinta-feira, a CUT e os CUTistas reafirmaram seus princípios de luta. E reiteraram que não abdicam de outro sonho, o de construir uma sociedade justa, com direitos e oportunidades iguais para todos, com emprego, mais renda, saúde, educação, habitação e transporte para todos.
No Distrito Federal a CUT foi fundada em julho de 1984. Com lideranças dos vigilantes, bancários, gráficos, servidores públicos federais, médicos, previdenciários, professores, aposentados, rodoviários, arquitetos, engenheiros e protagonistas de todas as categorias da classe trabalhadora, do campo e da cidade.
Não por acaso o companheiro Chico Vigilante foi escolhido o primeiro presidente da CUT Brasília, em 1984. Uma liderança nata, forjada na luta dos vigilantes. Foi ele, junto com Pedro Celso, Carlos Henrique Lustosa, Lucia Ivanov, Jacques de Oliveira Pena, Adelino Cassis, Jacy Afonso, Djalma, Chico Machado, Maria Laura, Jacques Pena, Lúcia Cervalho, Orlando Carriero e outros nomes de luta, que coordenou os primeiros passos da Central, a partir da redemocratização do país.