A Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal (CDH) recebeu nesta terça-feira (10) os deputados constituintes de 1988 Nelton Friedrich e Haroldo Sabóia, que fizeram duras críticas ao processo de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff. Segundo eles, a democracia brasileira está em risco, principalmente quando se leva em conta que golpe não se faz necessariamente com procedimentos bélicos.
“A democracia está em perigo, mas um perigo sofisticado, que não se traduz em armas e quartéis. Estão se apropriando de um discurso democrático para fazer, por exemplo, a retirada de direitos sociais — afirmou Friedrich, que ajudou a elaborar a Constituição de 88 como representante do PMDB do Paraná”, disse.
Haroldo Sabóia, por sua vez, criticou a atuação da mídia no processo e disse que o país nunca teve uma concentração tão grande de poder nos meios de comunicação. “Nunca vivemos um poder de imprensa tão monolítico como hoje. No Estado Novo e também na ditadura, havia uma uma rede de jornais clandestinos e até resistência dentro da grande mídia. Hoje o noticiário é o mesmo. É um horror. É uma violência nunca vista”, disse o ex-deputado maranhense, que também foi constituinte pelo PMDB.
Os trabalhadores também participaram da audiência e deixaram clara a posição contrária ao golpe e defenderam a importância da democracia brasileira para o desenvolvimento social do país e dos avanços dos direitos da classe trabalhadora. “Quem defende o golpe, defende o retrocesso das conquistas do povo brasileiro. E eles sabem. Por isso, têm medo de debater com a gente. Nós estamos nas ruas constantemente em defesa da democracia dizendo que somos contra o golpe e temos argumento para isso, porque não há crime de responsabilidade contra a presidenta Dilma Rousseff. Outra questão: como devemos levar em consideração o julgamento do processo de impeachment na Câmara que foi conduzido pelo Cunha, que está até afastado da Casa por investigação de lavagem de dinheiro? E os mais de 200 deputados que votaram a favor do processo e que estão sendo investigados? Isso é golpe e não é só um golpe político, é contra o povo trabalhador”, avaliou a secretária de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa.
O presidente da Fetracom-DF, Washigton Neves, ressaltou que o prejuízo aos trabalhadores já vem ocorrendo desde que a elite deu início ao movimento orquestrado para derrubar a presidente. “De lá para cá, os índices de desemprego aumentaram porque esse grupo realizou uma verdadeira campanha de paralização do governo. E, com apoio da mídia, obteve relativo sucesso ao implantar aquilo que vamos, cada vez mais, observar: a fragilização do trabalhador com consequente ataque aos seus direitos”, disse. “É bom que o trabalhador saiba que, se este golpe passar, a conta vai direto para ele”, completou.
A comissão, que foi presidida pelo senador Paulo Paim, recebeu também, a psicóloga Luíza Pereira, representante do Coletivo Iara Iavelberg, que entregou uma carta aberta condenando o possível impedimento de Dilma. O documento será encaminhado a todos os senadores pelo presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS).
Segundo a comunidade formada por psicólogos e estudantes de Psicologia, numa democracia, insatisfações com o projeto político-econômico de um governo não justificam sua deposição. E lembraram eles na carta, a legitimidade do mandato de Dilma, eleita com mais de 54 milhões de votos.
O encontro desta terça-feira (10) marcou o fim do ciclo de debates sobre democracia e direitos humanos realizado pela comissão. O senador Paulo Paim lembrou que, embora o ciclo estivesse encerrado, o assunto continuará em debate. “Ninguém tem dúvida de que a admissibilidade do impeachment vai passar, mas o processo continua nos próximos meses com a avaliação do mérito, quando serão necessários votos de dois terços dos senadores”. Por isso, a luta continuará.
Com informações da CUT Brasília e Senado